O MISTÉRIO DA FAZENDA SANTO ESTICA

− Então, tia, não se sabe se é lenda ou mistério.

− O que não se sabe se é lenda ou mistério, Milena?
− A história, tia, é do ano de 1959. Porém, só foi divulgada dez anos depois. Como se não bastasse, com nomes próprios fictícios.
− Ocultação, Milena.
− O que me preocupa, tia, é porque envolve o maior patrimônio da vida.
− O que seria o maior patrimônio da vida, Milena?
− O oxigênio, tia. Um suposto louco conseguiu neutralizá−lo.
− Assusta−me, Milena.
− No município de Timbrado, tia, trabalhadores, ao realizarem levantamento dos bens da fazenda Santo Estica, que seria desapropriada, se deparam-se com uma monstruosa construção de cimento. Não havia nenhum tipo de acesso. O trambolho, media dois metros de altura, seis de largura e quinze de comprimento. Uma escada foi providenciada e subiram. Ao longo da laje, havia visores de vidro. Limparam os visores e, ao espiarem através dos transparentes, observaram corpos intactos. O prefeito de Timbrado foi convocado. Vistoriou e achou por bem comunicar o fato ao governador do estado. Autoridades, ao visitaram o local, decidiram interditar a área para que estudos fossem realizados. Antigos relatos que circulavam em Timbrado foram coletados.
− Relatos ou boatos, Milena?
− Relatos, tia, porque eram narrados com apresentação de palpáveis: fotos dos familiares desaparecidos, cuja unânime versão apresentada fora a de que participariam de uma experiência. Experiência essa que não mais retornaram... Curiosidades dos relatos, tia: os desaparecidos trabalharam na construção da câmara, seguiram para a experiência acompanhados da esposa e dos filhos e o líder levaria consigo uma cápsula. Assim suspeitou−se de terem sido envenenados. Mas que veneno seria aquele que mantivera os corpos intactos?
− Quantas pessoas havia no interior da câmara, Milena?
− Trinta pessoas, tia... Realizada a investigação, ficaram sabendo da existência de um homem de cerca de 40 anos de idade que teria ocupado uma pequena casa localizada dentro dos limites da fazenda e que havia morrido subitamente no Mercado Municipal. Procuraram por essa casa, mas em vão. Seguindo a informação, visitaram o Mercado Municipal. Ali tinha acontecido uma morte súbita. Quem havia trocado sopapos com esse desconhecido podia prestar maiores informações. Fora o dono de um box; contou que o sujeito estava demasiadamente embriagado; falava um monte de asneiras entre elas que todos os habitantes da terra seriam mortos asfixiados: o oxigênio seria neutralizado. Tempos depois, ao sair do Mercado, caiu. Não era do município de Timbrado. O corpo ali permanecera por muitas horas e foi recolhido pelos ocupantes de um automóvel que se identificaram verbalmente como familiares. Então, tia, quando os investigadores levaram essa informação para os coordenadores do acampamento, vibraram. Por que vibraram? Porque as expressões dos aprisionados na câmara revelavam que haviam morrido por asfixia. Com a informação da existência de uma casa, concluiriam que ela deveria ter sido a porta de acesso e, posteriormente, caminharam por um túnel. Iriam cavar em torno da câmara e, fatalmente, encontrariam o túnel. Mas ficaram receosos assim optaram por consultar especialistas de certo país. Numa preguiçosa tarde de domingo, com reduzido número de pessoas no acampamento. Os coordenadores de plantão, aguardando pronunciamento do país requisitado, Rosa Fontes, bióloga catedrática, desejou comer jabuticaba. A cem metros de onde estavam, havia pés do mencionado fruto. Em grupo, dirigiram-se para as árvores. Movimentando−se em torno delas, um dos componentes do grupo topou com uma tampa de concreto. Imaginaram que se tratava de uma fossa. Mesmo assim a ergueram e entenderam que estavam enganados. Iriam descer, mas, antes do ato, um deles teve de retornar ao acampamento para providenciar uma lanterna. Uma vez providenciada, desceram em uma “sala”. No quadro−negro, que devido às dimensões deveria ter sido montado ali dentro, havia uma longa equação que misturava biologia, química e física. Rosa Fontes, ao interpretá−la, empalideceu e transmitiu para os leigos que seria possível neutralizar o oxigênio. Ou melhor, o desconhecido, que certamente seria cientista, havia conseguido neutralizá−lo. Reviraram o local e encontraram cadernos com anotações. O louco explicava como a vida havia sido dizimada há milhões de anos: aqueles elementos químicos circulavam livremente, provavelmente, num pântano. Agregando−se num fenômeno histórico. A neutralização do oxigênio se expandiu na velocidade da luz. Severo vácuo global se formou atraindo milhares de meteoritos e gigantescos asteróides. Dizimou a vida, inclusos os dinossauros... Meditaram por longos minutos... Como dito, estavam em pé em uma “sala”. Havia um túnel. Um deles, de quatro, porque só assim seria possível, ali se enfiou. Ao retornar, afirmou que finalizava com o acesso para a câmara que estava rigorosamente vedada. Então, para que não fosse futucado por um imbecil, decidiram que o túnel seria preenchido com cimento. O quadro−negro e os cadernos seriam queimados. Assim foi feito. Garantiu. Ainda, segundo o patenteado confidente, testemunha. Seria possível chegar-se ao nome do autor cientista. Mas uma proeza daquela, o certo seria manter ignorado.
− A extravagância da mente humana, Milena, às vezes, me assusta.
− A mim também, tia. Torço para que seja lenda. Caso não seja, estamos entregues à sorte. Porque, se uma das paredes do trambolho trincar, a reação ainda latente...
− Estaremos ferrados.
− ... Estaremos ferrados, tia...

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